Ciência
Um veículo para romper barreiras
Aluno do IFSul une cursos de Design e Eletrônica e cria transporte para pessoas com deficiência
Gabriel Huth -
Pode não parecer lógico que um apaixonado por automóveis se dedique a trabalhar com o olhar voltado a usuários de cadeiras de rodas. Mas é da quebra do pensamento lógico que surgem as boas ideias. Com isso na cabeça, o estudante pelotense Luiz Antônio Machado Júnior, 24, decidiu inovar e conseguiu unir diferentes áreas do conhecimento para construir um veículo que mistura mobilidade, acessibilidade e, claro, design atraente.
Recém-formado em Design no Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), Júnior resolveu colocar no papel a ideia de construir uma forma de garantir mobilidade a pessoas com deficiência nos membros inferiores a partir de uma brincadeira da avó ouvida frequentemente. “Eu me nego a andar em uma dessas cadeiras de rodas”, sempre sentenciou dona Eva, embora nunca tenha precisado de uma, reclamando da aparência do equipamento e dos olhares que atrai para o usuário. Com isso em mente, o aluno criou o conceito de um veículo híbrido e buscou orientação para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e a materialização do sonho.
Batizado de EVA (de Electric Vehicle Acessibility e também em homenagem à sua inspiradora), o projeto é audacioso: ser ao mesmo tempo um carro capaz de circular pelas ruas das cidades e apto a substituir as cadeiras de rodas tradicionais em locais fechados. Ao lado do coordenador do curso de Design, professor Alexandre Assunção, Júnior dedicou os cinco anos de bacharelado a desenvolver a proposta. “A cada nova ideia, surgia o desafio de descobrir como fazer”, conta o orientador. Complexa, a tarefa exigiu também o conhecimento em eletrônica do professor Rafael Galli, responsável pelo Laboratório 14 do IFSul.
No modo de circulação acessível, o EVA tem dimensões que o permitem andar tranquilamente em locais fechados, ocupando praticamente o mesmo espaço que uma cadeira de rodas. Porém, muito mais bonito e funcional, permitindo que o usuário fique de pé, suportado pela poltrona. “A ideia é que o veículo facilite a vida das pessoas e seja como os óculos para os cegos, algo que não causa estranheza”, explica Júnior. Já no modo trânsito, transforma-se em um pequeno carro com 1,53 metro de comprimento (menos da metade de um Volkswagen Up), capaz de atingir até 60 km/h. Tudo isso movido a energia elétrica e com comandos a partir de uma tela com central multimídia e joysticks instalados no banco interior.
Falta pouco
Embora seja uma proposta ousada e que à primeira vista possa parecer distante de se concretizar, o estágio avançado do projeto mostra o contrário. No segundo andar do IFSul, mais especificamente no Laboratório 14 do curso técnico de Eletrônica, mora hoje a base mecânica e tecnológica do EVA. E funcionando perfeitamente, aguardando os próximos passos para que possa finalmente ir às ruas.
Contemplado com uma bolsa de mestrado na Universidade Autônoma de Ciudad Juárez, Júnior embarca para o México nas próximas semanas e deve permanecer por dois anos pesquisando materiais para concluir o habitáculo do veículo. “Desenvolvemos aqui em Pelotas toda a parte mecânica e de tecnologia. Agora o desafio é aprimorar isso e utilizar materiais que tornem o EVA bonito e funcional como foi projetado, além de ter um preço acessível”, diz.
O estudante não arrisca uma data em que poderá ver o híbrido circulando. Mas garante que o sonho iniciado com a paixão por automóveis e design, aliado à vontade de auxiliar pessoas com deficiência, não ficará trancado por muito tempo em um laboratório de Eletrônica. “O projeto está pronto e não existe nada similar no Brasil. Vou continuar estudando para que logo possamos iniciar os testes finais e colocá-lo no mercado”, finaliza.
SAIBA MAIS
O veículo foi projetado para dois modos de circulação
Acessível
1,15 metro de comprimento
0,70 metro de largura
1,70 metro de altura
6 km/h de velocidade máxima
Trânsito
1,53 metro de comprimento
0,70 metro de largura
1,42 metro de altura
60 km/h de velocidade máxima
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